domingo, fevereiro 26, 2012

Shu Ha Ri - obedecer, romper e superar.

por Marcos Piolla


A continuação de On Ko Chi SHIN. 


Shu Ha Ri  é uma frase usada para descrever os três estágios do nosso desenvolvimento. Obedecer, romper e superar.



Shu ( obedecer / protejer ), a primeira fase, descreve os primeiros passos, a aquisição do conhecimento. É a hora em que nos falta informação suficiente para chegarmos às nossas próprias conclusões e, por isso, dependemos profundamente dos nossos Mestres. Obedecemos, pois eles sabem mais, já passaram por esse caminho e nos protegem de nós mesmos.



Isso, porém, não é razão para não pensarmos por nós mesmos mas esse processo deve ser monitorado e as dúvidas endereçadas ao Sensei para que nos oriente quanto ao quê encontraremos no pela frente enquanto tentamos alçar vôos desajeitadamente pelo caminho.




Quando, um dia, já dominamos os princípios básicos de que precisamos para ir mais além, somos encorajados a fazê-lo.


Ainda, claro, nos acompanham de perto quando nos aventuramos em novas empreitadas, mais avançadas e,...


...nos apoiando em nossos fracassos. Orientando rumo aos nossos futuros sucessos.


Ha ( romper / frustrar / modificar ) descreve a internalização dos conceitos aprendidos, possibilitando um salto de simplesmente aprender um sistema para colocá-lo em prática naturalmente. É o momento em que rompemos o cordão umbilical e conseguimos, finalmente, fazer jus ao nosso treinamento e mostrar que estamos aptos.



Nosso esforço se pagou e, agora, podemos nos virar sozinhos sabendo que não envergonharemos nossos Mestres e nossa "escola".


Porém, apesar de eficientes, continuamos fazendo exatamente aquilo que nossos mestres faziam e, muitas vezes, não tão bem. Eventualmente percebemos que os sistemas que usamos são extremamente eficientes para as compleições e personalidades de nossos Sensei, mas para a nossa, talvez, não sejam suficientes. 

A frustração natural em perceber que, com o avanço do tempo, nossa juventude vai passar e não alcançaremos o nível de excelência dos nossos Mestres nos força a mudar nossa forma de pensar e, consequentemente, de praticar... é tempo de exercer a autonomia gradual que conquistamos e vasculhar caminhos diferentes.

Ri ( separar / superar ) a fase final do nosso processo de aperfeiçoamento. O momento da liberdade que vem de dominar os sistemas, fazendo-os nossos e superando os seus (do sistema) limites ao transcender suas restrições.



Quebrando antigos paradigmas, passamos a controlar nosso próprio caminho e, nele, nos tornamos mestres de nosso próprio aprendizado.



Direcionamos nosso treinamento para práticas orientadas aos novos objetivos até que, eventualmente, conseguimos executar nossos métodos com a mesma excelência com que nossos Mestres executam os deles.



É uma pena que alguns praticantes, depois que entram no segundo estágio não conseguem romper as amarras imaginárias do sistema de seus antecessores e se recusam a digredir, um milímetro que seja, do caminho que lhes foi apontado.

Outros, até, por compartilharem compleições similares às dos Mestres, sentem-se confortáveis com o que aprenderam e dominam o sistema com maestria igual ou melhor à deles. Devido ao seu sucesso, reforçam a eficiência do sistema e, ao passar adiante, não permitem que seus alunos tenham autonomia para tentar outros meios.


Sem que possam vislumbrar caminhos mais suscetíveis aos seus biotipos e intelectos, continuam perpetuando esses meios como se fossem universais e os padronizam. O resultado é uma miríade de cópias desbotadas e esmaecidas de Mestres geniais cujo brilho jamais será visto novamente

No que diz respeito ao Karate, os instrutores e alunos avançados devem buscar copiar a mentalidade inovadora de seus antigos Sensei em vez de copiarem seus movimentos e seus meios.

Takeuchi Sensei: espírito inigualável ! Timing impossível !

Quando estivermos elocubrando sobre maneiras de evoluir, ao invés de meditarmos em "como melhorar meu timing?"... "como forjar um espírito aguerrido?"

Yahara Sensei: velocidade e potência desproporcionais.

Ou talvez "como me mover mais rápido?" ou "como obter mais potência?"

Asai Sensei: não pode ser rotulado nem definido. A não ser como Gênio !

Deveríamos estar pensando em "Como posso fazer desse Karate, meu?"

Mestres incríveis com particularidades totalmente distintas.

Ao nos inspirarmos em pessoas que adaptaram o Karate fazendo-o deles, temos a obrigação de honrar suas conquistas não deixando o desenvolvimento e a criatividade estagnarem. Só assim, poderemos nos chamar verdadeiramente de TRADICIONAIS.

O "caminho" através da floresta de pinheiros (Sho Rin)
ouvindo  Shoto (o som dos pinheiros ao vento)

O caminho nos aguarda...

OSS!

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Dream Team

Dream Team
Equipe do Rio de Janeiro. Da esquerda para a direita: Inoki, Fernando Athayde, Ronaldo Carlos, Hugo Arrigone, Paulão, Zeca Kriptanilha, Luciano e Flavio Costa. Falta nessa foto apenas o grande Victor Hugo Blanco Bittencourt..